Estender a mão ao irmão: um caminho para a real felicidade.
Reflexão do Evangelho de Marcos 1,40-45, do 6° Domingo do Tempo Comum.
A felicidade só é possível ali onde nos sentimos acolhidos e aceitos. Onde falta acolhimento, falta vida; o nosso ser paralisa-se; a criatividade atrofia-se. Por isso uma “sociedade fechada é uma sociedade sem futuro, uma sociedade que mata a esperança de vida dos marginalizados e que finalmente se afunda a si própria” (Jorgen Moltmann).
São muitos os fatores que convidam os homens e mulheres do nosso tempo a viver em círculos fechados e exclusivistas. Numa sociedade em que crescem a insegurança, a indiferença ou a agressividade, é explicável que cada um de nós trate de assegurar a nossa “pequena felicidade” com aqueles que sentimos iguais.
As pessoas que são como nós, que pensam e querem o mesmo que nós, dão-nos segurança.
Por outro lado, as pessoas que são diferentes, que pensam, sentem e querem de forma diferente, produzem preocupação e medo.
Por isso se agrupam as nações em “blocos” que se olham mutuamente com hostilidade. Por isso procura cada um de nós o nosso “recinto de segurança”, aquele círculo de amigos, fechado aqueles que não são da nossa condição.
Vivemos como “à defesa”, cada vez mais incapazes de quebrar distâncias para adotar uma posição de amizade aberta para com qualquer pessoa.
Habituamo-nos a aceitar apenas os mais próximos. Aos restantes toleramos ou olhamos com indiferença, se não mesmo com cautela e prevenção.
Ingenuamente pensamos que, se cada um se preocupa em assegurar a sua pequena parcela de felicidade, a humanidade continuará a caminhar em direção ao seu bem-estar. E não nos apercebemos que estamos a criar marginalização, isolamento e solidão. E que nesta sociedade vai ser cada vez mais difícil ser feliz.
Por isso, o gesto de Jesus assume uma especial atualidade para nós. Jesus não só limpa o leproso.
Estende a mão e toca-o, quebrando preconceitos, tabus e fronteiras de isolamento e marginalização que excluem os leprosos da convivência. Como seguidores de Jesus devemos sentir-nos chamados a trazer a amizade aberta aos setores marginalizados da nossa sociedade. São muitos os que necessitam de uma mão estendida que chegue a tocá-los.
Publicado originalmente em Religión Digital e traduzido pelo IHU
*José Antonio Pagola é padre e tem dedicado a sua vida aos estudos bíblicos, nomeadamente à investigação sobre o Jesus histórico. Nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagradas Escrituras pelo Instituto Bíblico de Roma (1965), e diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no seminário de San Sebastián (Espanha) e na Faculdade de Teologia do Norte de Espanha (sede de Vitória), foi também reitor do seminário diocesano de San Sebastián e vigário-geral da diocese de San Sebastián