Ó Deus e Pai de bondade, ajude-nos a compreender que a vida é missão.
A missão de Auristela espera louvores e muito menos vênias.
Auristela (centro) e paroquianos da igreja de Santo Afonso, em Fortaleza, Ceará.
Auristela Leite é uma mulher da Paróquia de Santo Afonso que tem preocupação e carinho para com os vulneráveis, os moradores de rua, em sua costumeira presença, à noite, nas praças da nossa querida Fortaleza, levando alimento e, por vezes, lençóis e agasalho a seus habitantes, além do conforto e alento espiritual. Pode acreditar! Tenho a certeza de que ela não quer louvores e muito menos vênias.
Ela já chegou a me confidenciar certa vez: “Padre Geovane, não gosto muito de elogios e tenho até nojo daquele linguajar jurídico e acadêmico, que parece lembrar a imagem do ‘santo do pau oco’, chegando próximo da hipocrisia”.
Um dia ela me disse, dentro do contexto da missão universal da Igreja – e estamos vivendo o Mês Missionário 2020: “Gosto muito de dom Helder, em sua apaixonante afirmação: ‘Missão é partir, é não se deixar bloquear nos problemas do pequeno mundo a que pertencemos: a humanidade é maior. Missão é partir, mas não devorar quilômetros. É, sobretudo, abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e encontrá-los. E se, para encontrá-los e amá-los, é preciso atravessar os mares e voar lá nos céus, então Missão é partir até os confins do mundo'”.
Assim, Auristela, mulher afável, terna e carinhosa, tendo na mente e no coração os desprotegidos deste mundo, tão marcados pela dor, no sofrimento de toda natureza, disse-me também:
“O papa Francisco é minha inspiração no meu humilde compromisso por um mundo inclusivo e solidário, por uma Igreja em saída, mas nunca posso esquecer aquele papa da bondade, São João XXIII (1958-1962), no seu especial carinho para com as crianças, às quais, mesmo em tempo de pandemia, gosto de chamar de ‘maluquinhos'”.
Nossa paroquiana tem larga clareza de que São João XXIII percebeu os sinais dos tempos, na sua urgência por renovação ou rejuvenescimento, o aggiornamento, mas dentro de uma nova pedagogia: a de que se pode contar com o remédio, o perdão, a misericórdia e a brandura, e não com a severidade.
Assim, São João XXIII, com um carinho de que lhe era peculiar, chegou a dizer aos padres conciliares:
“Quando vocês voltarem para casa encontrarão crianças. Deem a elas um carinho e digam: Este é o carinho do papa”.
Ó Deus e Pai de bondade, ajude-nos a compreender que a vida é missão, é dom e compromisso, como na voz do profeta Isaías: “Eis-me aqui! Envia-me!”. Assim seja!
*Geovane Saraiva é pároco de Santo Afonso em Fortaleza (CE), blogueiro, escritor e integra a Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza (Amlef)
Fonte: Dom total
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