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Reforma Litúrgica: uma proposta ainda em aberto

Reforma Litúrgica: uma proposta ainda em aberto.

A Reforma Litúrgica pressupõe participação que a liturgia é vivência sacramental e histórica de salvação.
É preciso tornar nossa Igreja, toda ela, pedagógica e mistagógica, a fim de que a participação dos fiéis possa se desdobrar em bons frutos evangélicos em nossa sociedade e em nossa história.

No artigo passado, destacávamos a opção fundamental feita por Francisco, e sinalizada no começo de suas catequeses litúrgicas: a fidelidade ao espírito do Concílio Vaticano II e à consequente Reforma Litúrgica.
Como vimos, esse não foi um aceno desimportante: ele aponta para um verdadeiro programa pastoral.

Um dos pontos centrais da Reforma Litúrgica, e que Francisco relembra, diz respeito à formação dos fiéis, para o bem viver e celebrar a liturgia.

Sacrosanctum concilium

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Se nos atentarmos à Sacrosanctum concilium, documento do Vaticano II sobre a liturgia, perceberemos que a palavra “participação”, com suas variações, aparece mais de quarenta vezes, em todo o documento.
Sem dúvidas, esse é o ponto mais importante de toda a Reforma Litúrgica: promover a participação dos fiéis, no Mistério Pascal de Cristo, celebrado na vida eclesial.
Isso é fruto de um longo caminho, que nos remete ao Movimento Litúrgico, que surgiu na Igreja em meados do século 19, quando algumas iniciativas pastorais começaram a despontar, na busca por reaproximar os fiéis da participação, com qualidade, na vida litúrgica.

É também graças ao Movimento Litúrgico, que teve importantes teólogos envolvidos, que o Concílio pôde chegar a uma sólida teologia a respeito do que é a Liturgia, rompendo com uma compreensão ritualista e rubricista do termo, que vigorava até então.
A teologia litúrgica, presente, ainda que de forma sintetizada, na Sacrosanctum concilium, é, longe de dúvidas, a base que tornou possível a eclesiologia tão bem formulada no documento Lumen Gentium, do mesmo Concílio.

E isso nos leva a considerar a perspectiva da participação dos fiéis, como elementar para compreender o espírito do Concílio Vaticano II.

O que a Igreja conciliar bem compreendeu é que não há legítima participação ?” com todos os bons e valiosos adjetivos que a Sacrosanctum concilium usa: plena, ativa, consciente, frutuosa e piedosa ?” se não houver uma boa formação dos fiéis, para que mergulhem, de fato, na experiência celebrativa do Mistério Pascal de Cristo, que deve ser vivido por todos fiéis, verdadeiro direito e dever, como momento histórico-celebrativo de salvação.

Para bem reforçar a importância do que acabamos dizer: a participação na liturgia é vivência sacramental e histórica de salvação. Isso não é pouca coisa, para o exercício da fé e da vida cristãs, pois!

A defesa dessa participação plena, ativa, consciente, frutuosa e piedosa podemos intuir presente, na catequese do papa Francisco, quando ele retoma um importante elemento do chamado diálogo invitatório, que dá início à prece eucarística: o ?corações ao alto!?.
Pedagógica e mistagogicamente, Francisco retoma esse convite a que mantenhamos o coração ao alto, para que bem vivamos a celebração litúrgica, como experiência de fato de encontro com Deus e, consequentemente, com os irmãos.
Há uma sabedoria de comunhão nisso, que merece atenção: o presidente da celebração fala no plural, corações, enquanto que a comunidade responde no singular, coração.

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Uma rica participação na liturgia nos educa para a compreensão que nossa relação com o Deus de Jesus nos forma como uma Igreja unida, pelo Espírito do Ressuscita, a um só coração em comunhão.

De maneira catequética, exorta-nos o papa Francisco a que elevemos os corações e não os celulares, mostrando como nossa desatenção nos priva de uma participação efetiva no dom salvífico que celebramos como comunidade reunida ao redor da Palavra e da Eucaristia, que devem nos atravessar.
Quantas outras coisas nos desviam o coração da riqueza celebrativa da liturgia, e dos desdobramentos da fé e da vida decorrentes de uma boa participação no mistério da vida de Cristo, doada também nos sacramentos?

É preciso tornar nossa Igreja, toda ela, pedagógica e mistagógica, a fim de que a participação dos fiéis possa se desdobrar em bons frutos evangélicos em nossa sociedade e em nossa história.

Defender a Reforma Litúrgica, e nos colocar a serviço dela, é um serviço ao qual não podemos nos furtar. A Reforma Litúrgica ainda está longe de ser concluída, há, ainda, um longo caminho pastoral, catequético e litúrgico por fazer. Esse caminho está aberto e é nossa responsabilidade ajudar os fiéis a que tenham o coração ao alto, verdadeiramente, o coração em Deus.

*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com

Fonte: DomTotal

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