Religião

Meu último dia salesiano

Meu último dia salesiano

O diálogo continuou cada vez mais difícil, até que o diretor ficou mais agressivo

Não diria que fui expulso do salesiano Colégio São João, de São João Del-Rei. Digamos que fui desligado. Ou obrigado a me retirar. Conto como foi.

Tinha eu 13 anos quando recebemos, eu e meu irmão Jadir, carta do meu pai informando que o Luiz, nosso irmão, tinha se ordenado padre em Diamantina e iria celebrar a primeira missa no Jacuri. E que o Jair, outro irmão, iria nos buscar, porque minha mãe queria todos os irmãos presentes na primeira missa do agora Padre Luiz Barroso. Devo lembrar que o maior sonho da nossa mãe era ter um padre na família, e Deus lhe dera essa graça.

Eu e o Jadir estudávamos no Colégio São João, que tinha esse nome não por causa da cidade, mas porque os salesianos são uma congregação fundada por São João Bosco. Era uma espécie de seminário, um presídio religioso. Internos, não podíamos sair da clausura para nada. Nas férias, éramos levados para o Colégio Dom Bosco de Cachoeira do Campo, que era externato e ficava vazio nessas ocasiões. Já havia cinco anos que o Jadir estava trancado, e eu completara três. nós ambos esse tempo todo sem ver pai e mãe.

Quando o Jair chegou ao colégio e comunicou aos padres que fora buscar os dois irmãos para a primeira missa do irmão padre, a direção do colégio vetou a saída do Jadir. Afinal de contas, ele já completara os cinco anos do primeiro ciclo de estudos e estava pronto para iniciar o que chamavam de noviciado. Aí já vestiria batina.

Foi interessante o diálogo do Jair com o diretor do religioso estabelecimento, acho que se chamava Padre Menezes. Disse o Jair:

– Seu padre, meu pai e minha mãe querem a presença dos dois na missa do irmão, e eu vim aqui para levá-los.

Resposta do padre:

– O Afonso até que pode ir, mas o Jadir, não. Ele já vai iniciar o noviciado e não pode sair neste momento.

O Jair insiste:

– Mas, seu padre, é o nosso irmão que vai celebrar a primeira missa, e minha mãe faz questão de ter todos nós presentes.

Padre Menezes, intransigente:

– O Afonso pode ir, mas o Jadir não vai.

O diálogo continuou difícil, quando o padre ficou mais agressivo:

-Vejo que não adianta raciocinar com quem não tem ralciocínio.

Resposta do Jair:

– E eu vejo que então não adianta raciocinar com o senhor.

A história terminou com nós três dentro do trem para Belo Horizonte, de onde pegaríamos a jardineira para Peçanha, e daí a cavalo para o Jacuri.

O Jadir não voltou para o colégio, porque não tinha vocação nenhuma para ser padre. E eu, por causa dele, fui dispensado, porque pensaram que eu também não tinha. E não tinha mesmo. Um padre na família já estava de bom tamanho.

DomTotal

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