Dez novos santos exemplificam formas de superar o egoísmo, diz o Papa Francisco.
‘Nunca nos esqueçamos da primazia de Deus sobre o eu, do Espírito sobre a carne, da graça sobre as obras’
CIDADE DO VATICANO (CNS) – A vida dos santos prova que a santidade não é um objetivo inalcançável alcançado por poucos, mas vem do reconhecimento e da partilha do amor de Deus, disse o Papa Francisco.
“Nossa vida cristã começa não com a doutrina e as boas obras, mas com o assombro que nasce de perceber que somos amados, antes de qualquer resposta de nossa parte”, disse o Papa em sua homilia durante a missa de canonização na qual declarou 10 homens e mulheres como santas da Igreja Católica.
“Às vezes, ao enfatizar demais nossos esforços para fazer boas obras, criamos um ideal de santidade excessivamente baseado em nós mesmos, em nosso heroísmo pessoal, nossa capacidade de renúncia, nossa prontidão para o auto sacrifício para alcançar uma recompensa. Desta forma, transformamos a santidade em uma meta inatingível”, disse o Papa.
Estima-se que 45.000 peregrinos de todo o mundo se reuniram na Praça de São Pedro no início da missa de canonização, e dezenas de milhares chegaram a tempo para a recitação da oração “Regina Coeli” depois, disse o Vaticano.
O Padre carmelita Michael Driscoll, que mora em Boca Raton, Flórida, estava entre os peregrinos que chegaram cedo para a missa de canonização, que ele disse estar “esperando há 18 anos” desde a cura milagrosa de um melanoma avançado e metastático. Ele havia orado pela intercessão de São Tito Brandsma, e sua cura foi aceita como o milagre necessário para a canonização do carmelita holandês.
O Padre Driscoll disse ao Catholic News Service em 13 de maio que estava “muito ansioso e emocionado” pela canonização de São Brandsma, que morreu em 1942 no campo de concentração de Dachau depois de “usar seus talentos como professor, publicitário e escritor” para combater a ideologia nazista.
“Ele lutou com a boca no púlpito, lutou com a caneta e a máquina de escrever muito antes da internet aparecer. O novo santo usou tudo o que estava disponível na época e reuniu a Holanda”, disse o padre Driscoll ao CNS.
Em sua homilia, o Papa refletiu sobre a leitura do Evangelho dominical de São João, na qual Jesus convida seus discípulos a “se amarem como eu os amei”.
O chamado de Cristo, disse Francisco, deve ser “o núcleo de nossa própria fé”, uma fé que reconhece que “nossas habilidades e nossos méritos não são a coisa central, mas sim o amor incondicional, livre e imerecido de Deus”.
“Ser discípulos de Jesus e avançar no caminho da santidade significa, antes de tudo, deixar-se transfigurar pela força do amor de Deus. Nunca esqueçamos a primazia de Deus sobre o eu, do Espírito sobre a carne, da graça sobre as obras”, disse o Papa.
O chamado de Jesus para amar uns aos outros, continuou, não é apenas um chamado para imitar seu amor pela humanidade, mas um lembrete de que os cristãos “só podem amar porque ele nos amou, porque derrama em nossos corações o seu próprio Espírito, o Espírito de santidade, amor que cura e transforma”.
Para viver a vida de acordo com esse amor, o Papa disse que os cristãos devem estar dispostos a servir aos outros, o que limpa a alma do “veneno da ganância e da competitividade” e combate “o câncer da indiferença e o engano da auto-referencialidade”.
Dar a vida, disse Francisco, é “mais do que simplesmente oferecer algo nosso aos outros”, mas é uma maneira de “superar nosso egoísmo para tornar nossa vida um presente”.
O Papa Francisco disse que os 10 novos santos exemplificam o chamado cristão “para servir o Evangelho e nossos irmãos e irmãs, para oferecer nossas vidas sem esperar nada em troca, ou qualquer glória mundana”.
“Eles descobriram uma alegria incomparável e se tornaram reflexos brilhantes do Senhor da história”, disse o Papa. “Que nos esforcemos para fazer o mesmo, pois cada um de nós é chamado à santidade, a uma forma de santidade toda nossa”.
Os novos santos são:
- Devasahayam Pillai, um leigo indiano nascido em 1712 e martirizado em 1752.
- César de Bus, o fundador francês dos Padres da Doutrina Cristã, que nasceu em 1544 e morreu em 1607.
- Luigi Maria Palazzolo, fundador italiano da Congregação das Irmãs dos Pobres, que viveu entre 1827-1886.
- Giustino Maria Russolillo, fundador italiano da Sociedade das Vocações Divinas para homens e das Irmãs Vocacionistas, 1891-1955.
- Charles de Foucauld, padre e eremita francês, nascido em 1858 e morto em 1916.
- Anna Maria Rubatto, fundadora italiana da ordem hoje conhecida como Irmãs Capuchinhas de Madre Rubatto, que viveu entre 1844-1904.
- Maria Domenica Mantovani, cofundadora e primeira superiora geral das Irmãzinhas da Sagrada Família, nascida em 1862 e falecida em 1934.
- Titus Brandsma, padre e jornalista holandês, nascido em 1881 e martirizado em 1942.
- Carolina Santocanale, fundadora italiana da Congregação das Irmãs Capuchinhas da Imaculada de Lourdes, que viveu entre 1852-1923.
- Marie Rivier, fundadora francesa das Irmãs da Apresentação de Maria. Nasceu em 1768 e morreu em 1838.
Traduzido por Ramón Lara.