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A Ucrânia diz que país apoia possível viagem papal a Kiev

Enviado papal à Ucrânia diz que país apoia possível viagem papal a Kiev

“Do leste da Europa, da terra do nascer do sol, as sombras escuras da guerra agora se espalharam”, disse o pontífice

Papa Francisco participa de uma reunião com autoridades e membros do corpo diplomático no Palácio de Valletta, Malta, em 2 de abril de 2022 Foto (Paul Haring/CNS)

Crux

ROMA – Voltando de Malta no domingo, o Papa Francisco disse a repórteres que é possível uma visita à Ucrânia.

“Estou disposto a fazer tudo o que deve ser feito, e a Santa Sé, o lado diplomático, está fazendo tudo”, disse Francisco. “Não podemos tornar pública todas as ações, mas sobre esse ponto, podemos”.

Embora reiterando que uma possível viagem à Ucrânia está “sobre a mesa”, o Papa disse que permanece incerto.

“Digo com toda a sinceridade que gostaria de ir. A vontade está sempre lá, não existe um não”, apontou o Santo Padre. “Se pode ser feito, devo fazê-lo. Isso tudo está no ar. ”

Francisco foi convidado pelo presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy, pelo prefeito de Kiev, Vitaliy Klitschko, e pelo arcebispo major Sviatoslav Shevchuk, da Igreja Greco-Católica Ucraniana.

O arcebispo Visvaldas Kulbokas, núncio apostólico na Ucrânia, que permaneceu em Kiev durante a guerra, disse que uma viagem papal é incerta.

Falando com a SIR, a agência de notícias dos bispos italianos, o prelado havia dito anteriormente que “todas as possibilidades estão abertas” e que desde o início do conflito “o Papa disse que está pronto para fazer todo o possível. Ele disse isso várias vezes e está fazendo isso e é claro que está fazendo tudo que pode ajudar a parar esta guerra”.

Francisco falou publicamente sobre a guerra na Ucrânia pelo menos 18 vezes desde que o presidente russo, Vladimir Putin, ordenou que seu exército invadisse o país em 24 de fevereiro.

Em 25 de março, a pedido dos bispos ucranianos, consagrou a Rússia e a Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria. Logo após o início da invasão, o pontífice visitou a embaixada russa na Santa Sé; falou ao telefone com Zelenskyy e realizou uma videoconferência com o Patriarca Kirill, chefe da Igreja Ortodoxa Russa.

Além disso, O Santo Padre enviou dois cardeais para a Ucrânia como seus conselheiros pessoais e encarregou o aparato diplomático do Vaticano de trabalhar para uma solução pacífica para a crise.

Em 23 de março, o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, se reuniu com o embaixador russo na Santa Sé, Aleksandr Avdeev. Segundo o jornal italiano Corriere della Sera, entre os assuntos discutidos estava a possibilidade de uma visita papal à Ucrânia, uma perspectiva que o regime de Moscou via como “um presente para os Estados Unidos”.

No sábado, enquanto estava em Malta, Francisco expressou sua mais dura condenação a Putin, embora tenha se abstido de dizer seu nome.

“Do leste da Europa, da terra do nascer do sol, as sombras escuras da guerra agora se espalharam”, disse o pontífice. “Pensamos que as invasões de outros países, as lutas selvagens nas ruas e as ameaças atômicas eram lembranças sombrias de um passado distante.”

“Mais uma vez, um potentado, tristemente preso em reivindicações anacrônicas de interesses nacionalistas, está provocando e fomentando conflitos, enquanto as pessoas comuns sentem a necessidade de construir um futuro que será compartilhado ou ameaçado”, disse Francisco.

Falando sobre Kiev, Kulbokas disse que as noites sem bombardeios “são raras”, embora ao meio-dia de sábado, apontou, a capital ucraniana tenha passado 36 horas sem um bombardeio de artilharia.

No entanto, enquanto a Ucrânia recupera áreas que foram ocupadas pelos russos, imagens de centenas de civis assassinados foram compartilhadas por jornalistas internacionais.

O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia disse no domingo que as tropas russas executaram civis enquanto se retiravam das regiões “por raiva e apenas porque queriam matar”.

Dmytro Kuleba, ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, classificou a Rússia como “pior que o ISIS” e disse que é possível que suas ações militares possam equivaler a um genocídio.

Kulbokas disse que o diretor do maior hospital pediátrico de Kiev lhe disse ao telefone que “estão tratando de crianças, algumas das quais os militares atiraram com predeterminação na cabeça, então não é uma questão de ferimentos devido a tiros recebidos por acaso, mas de soldados olhando para as crianças e atirando em suas cabeças”.

A invasão da Ucrânia pela Rússia, disse o ministro, foi “fora de todos os limites do direito humanitário”.

“A guerra produz esses fatos”, apontou. “A guerra sempre deve ser condenada porque vivemos todas as brutalidades que ela produz.”

Kulbokas também disse que todos na Ucrânia apoiam uma visita papal a Kiev.

“Não há ninguém aqui que não queira a visita do papa”, disse o ministro.

“A humanidade é incapaz de resolver esta guerra”, falou à SIR. “Aqui, não se trata mais do Papa. Na minha opinião, toda a humanidade deve se unir, juntar-se e fazer todo o possível para parar não apenas esta guerra, mas todos os conflitos do mundo”.

“Uma guerra como esta, quem a impede? Ninguém”, disse Kulbokas. “As Nações Unidas? Eles não existem. O Conselho de Segurança? Não existe. No final, estamos todos nus.”

Kulbokas disse que a menos que todos se unam, “a humanidade é incapaz de resolver esta guerra”.

Traduzido por Ramón Lara.

Escrito por Inés San Martín.

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