Johan Konings: alguém como Jesus
A generosidade e alegria de Johan Konings eram marcantes
Fabrício Veliq*
No último sábado, dia 21/05/2022 morreu um grande companheiro de caminhada e teólogo, e esse fato entristeceu não somente a mim, mas a todas as pessoas que tiveram a oportunidade de conviver com alguém como Konings.
Eu, particularmente, nunca tive aulas com ele no meu período de mestrado e doutorado. Porém, aprendi muito com ele desde que passei a ter maior contato devido a um processo de doutorado em cotutela em KU Leuven, onde ele tinha sido formado e sido professor. Sua intervenção no processo foi uma das grandes responsáveis pela celeridade de todo trâmite burocrático. A partir daí, então, nossas conversas se tornaram mais recorrentes nos diversos encontros pelos ambientes da FAJE.
Sua generosidade e alegria eram marcantes. Sempre que nos encontrávamos e tínhamos algum tempo de conversa, ele falava sobre sua vida na Bélgica, ou fazia alguma piadinha espirituosa sobre a vida para o lado de lá.
Falar sobre sua capacidade teológica é desnecessário. Um dos maiores conhecedores do texto de João no mundo, exegeta e filólogo maravilhoso, cooperador em diversas revisões de textos bíblicos e até mesmo de traduções bíblicas, sem falar nos diversos livros que revisou para editoras como a Loyola.
A primeira vez que traduzi um livro, sobre o Levítico, foi o próprio Konings que seria o revisor da tradução. Sua generosidade nos comentários e correções foram sem igual, sempre disposto a dar dicas de como fazer a tradução de forma mais fácil e otimizar o tempo, tendo sido um excelente suporte nesse longo processo que é a tradução de qualquer texto.
Lembro-me também de outra situação na qual precisava dar uma aula sobre o texto de Apocalipse, para um concurso na PUC Minas. Ali, também, depois de montar toda a aula, enviei para ele, solicitando que, se possível, revisasse a aula e me dissesse se estava bom para o tempo que tinha. Mais uma vez, generosamente, leu todo o material, fez algumas correções e respondeu: “Me parece que está na medida certa! Sucesso!”. Ter esse suporte e ter tal selo Konings de aprovação do material me deram uma segurança muito grande para apresentar o conteúdo preparado.
Konings esteve também na minha banca de doutorado, ainda que por videoconferência, por estar, no dia, em São Paulo. Seu parecer foi um dos mais generosos que recebi até hoje na caminhada. Lembro-me com alegria dele reconhecendo minha caminhada e dizendo que considerava digno do título de doutor em teologia.
Essas pequenas demonstrações em situações diversas, para mim, mostram o quão generoso, bondoso, espirituoso, amigo e companheiro esse teólogo belga era. Juntamente com o querido Ulpiano, foi um dos grandes incentivadores do meu percurso na teologia, sempre disposto a auxiliar no que se fizesse necessário.
Suas reflexões, que de tempo em tempo mandava para sua lista de e-mail, também eram de um refinamento e profundidade maravilhosos. Falava com amor do mistério de Jesus, a quem dedicou grande parte de sua vida.
Konings, a meu ver, conseguiu ser como Jesus, amando o Pai e falando desse Pai que Jesus também falava. Foi uma pessoa amorosa, aberta, sempre com uma palavra de sabedoria para dizer, sem perder a leveza de viver.
Há cerca de dois anos, enquanto conversávamos em frente à biblioteca, ao falhar em sua pisada, sorriu para mim e disse: “não se preocupe, eu sou velho mesmo”, mantendo sempre a serenidade.
O mundo perde um grande homem, um exemplo de cristão. Com certeza, sua presença e sabedoria farão muita falta entre nós. Embora triste ao escrever este texto, alegro-me sobremaneira de ter podido conviver com um homem assim.
Descanse em paz, querido amigo Konings!
Dom Total