O humanismo do papa Francisco
A reflexão e ação constantes do Papa Francisco são um projeto humanista sendo realizado na melhor acepção do termo. Suas palavras, viagens, ações, preocupações e intervenções políticas e religiosas demonstram isso.
A busca por um novo humanismo está em questão. Numa época em que se fala de fim do humanismo, em pós-humanidade, em humano pós-humano, em transumanismo, ainda é pertinente falar em humanismo? A narrativa biográfica do conceito humanismo, em seus desdobramentos históricos, ainda possui forças para engendrar um humanismo grávido de novas possibilidades para a sociedade contemporânea? As ideias e as ações de Papa Francisco apontam para a aurora de um novo humanismo? Esses e outros instigantes questionamentos, encontramos discutidos no livro “O Novo Humanismo: Paradigmas civilizatórios para o século XXI a partir do Papa Francisco”(Paulus, 2022), organizado pelo NESP PUC Minas (Núcleo de Estudos Sociopolíticos – www.nesp.pucminas.br) com a coordenação do Professor Dr. Robson Sávio.
O livro nos leva a pensar: Um projeto humanista hoje é possível? A pergunta é pertinente. A contemporaneidade não se cansa de colecionar críticas a toda perspectiva que se diga humanista. Defender o humanismo hoje é uma tarefa difícil. Por isso mesmo, ver como um projeto humanista que está acontecendo na reflexão e na ação do Papa Francisco é fascinante.
A reflexão e ação constantes do Papa Francisco são um projeto humanista sendo realizado na melhor acepção do termo. Suas palavras, suas viagens, suas ações, suas preocupações, suas intervenções políticas e religiosas demonstram isso. Papa Francisco coloca seu papado, sua missão sempre e eficazmente na esteira desse projeto denominados por alguns de humanismo integral. Seus discursos nos dão o arcabouço teórico de sua ação humanizadora.
Nos textos de Papa Francisco, três olhares são sempre propostos: um olhar inquieto (crítico), um olhar esperançoso (construtivo) e um olhar universal (includente). Por exemplo, o modelo da encíclica Laudato si’ é paradigmático. Nessa encíclica, o Papa Francisco propõe resgatar um humanismo cristão, católico, por isso mesmo universal, descentrado de uma antropologia estreita, mas aberto ao que ele chama de “cuidado com a casa comum”.
Um novo humanismo? Um humanismo clássico reinterpretado? Um humanismo católico atento para com a realidade atual? Um humanismo da hospitalidade? Um humanismo da vida? Um humanismo integral? As denominações para a ação transformadora do Papa Francisco são muitas. No entanto, todas elas apontam para um “novo humanismo, que coloque fim ao analfabetismo da compaixão e ao progressivo eclipse da cultura e da noção de bem” (FRANCISCO, La irrupción de los movimentos populares, 2019), assim define o próprio Papa. Um humanismo consciente de que tudo está em relação, tudo está interligado.
Papa Francisco, como um dos poucos líderes mundiais a ter uma voz profética e respeitada no mundo contemporâneo, clama por um humanismo que gere uma transformação social e que lute por um estilo de desenvolvimento justo e inclusivo, aberto e acolhedor, religioso e pragmático. Os temas dessa incidência propositiva do Papa Francisco são muitos. Ele fala com crianças e idosos. Partilha suas preocupações com famílias e com defensores de grupos minoritários. Faz catequese e discursa em fóruns mundiais. Visita países e presidentes e faz refeições com pessoas em situação de rua. Visita presídios e hospitais. Fala em escolas infantis e universidades. Encontra-se com seminaristas e bispos. Reza com católicos fervorosos e crentes de outras religiões. Defende os valores ocidentais e cristãos, abre-se atentamente à escuta das outras visões de mundo. Preocupa-se com a educação, propondo um Pacto Educativo Global; com a economia, instigando os economistas a pensarem uma Economia de Francisco e Clara; e com as pastorais sociais e movimento populares. Ao defender para todos “terra, teto e trabalho”, defende a democracia, os movimentos sociais e a ética na política.
Lutando pela justiça socioambiental e por uma economia que vise ao bem comum, o Papa Francisco prioriza as zonas de fronteira da sociedade e as periferias. Não escapa de sua atenção a Amazônia, os movimentos sociais, as vítimas de todo tipo de abusos, as novas comunidades cristãs, as religiosas e os religiosos tradicionais. Ora, os exemplos são muitos, variados e consoladores. No encontro com as realidades e as pessoas, o Papa Francisco encarna o humanismo em sua acepção mais humanizadora.
Dom Total