Eis o Cordeiro de Deus: “Cenas da Paixão de Cristo”
Acima da cabeça de Jesus, as palavras “INRI” transmitem em latim o título que Pôncio Pilatos havia escrito para ser inscrito na cruz: “Jesus, o Nazareno, o Rei dos Judeus”
Durante a Semana Santa, a paixão, morte e ressurreição do Senhor são lembradas não como eventos históricos passados, mas como mistérios de fé pelos quais compartilhamos o poder da passagem de Jesus da vida à morte para uma nova vida com Deus.
O sofrimento, a morte e a ressurreição de Jesus se tornam a vitória de nossa morte sobre o pecado e a ressurreição para uma nova vida em Cristo. Ao renovar nossas promessas batismais na Páscoa, passamos para a nova vida de graça, iniciada no batismo e revelada na Páscoa de Jesus.
Um requintado retábulo tríptico do século XIV, intitulado “Cenas da Paixão de Cristo: A agonia no jardim, a crucificação e a descida ao limbo”, nos convida a caminhar com Jesus em sua jornada pascal nesta Semana Santa.
É o trabalho de Andrea di Vanni, um proeminente pintor de Siena, Itália, que assinou seu nome na borda inferior do painel central. Dado o tamanho modesto do tríptico portátil, provavelmente foi destinado ao uso pessoal em uma capela privada.
Tons profundos de vermelho, amarelo e azul contra um fundo dourado brilhante nos lembram que a cena abrange o céu e a terra. Figuras cuidadosamente pintadas evocam emoções dramáticas e movimento em uma narrativa simultânea, com diferentes cenas se desenrolando na mesma tela.
Lendo a pintura da esquerda para a direita temos uma catequese visual que nos convida para os eventos sagrados da Semana Santa.
Na ala esquerda do tríptico, Jesus, com um manto vermelho-claro, ajoelha-se em oração angustiada. A agonia de Jesus foi tão intensa que seu suor se tornou como gotas de sangue caindo no chão. Seus olhos são erguidos para o céu, onde um anjo segura um cálice.
E com as mãos Jesus transmite as palavras que orou ao seu Pai celestial: “Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua.” (Lc 22,42).
Abaixo, Jesus encontra os discípulos dormindo, exorta-os a ficarem acordados e a rezar para que sejam poupados da tentação. No canto superior esquerdo, soldados prendem Jesus, agora traído por Judas.
O painel central retrata a morte de Jesus por crucificação. Várias figuras se movem sob a cruz na qual Jesus, com o corpo ferido, inclina a cabeça em amor auto sacrificial final. Acima da cabeça de Jesus, as palavras “INRI” transmitem em latim o título que Pôncio Pilatos havia escrito para ser inscrito na cruz: “Jesus, o Nazareno, o Rei dos Judeus”.
Os anjos cuidam de Jesus enquanto Maria, sua mãe, oprimida pelo sofrimento de seu filho divino, desmaia nos braços de duas mulheres. Aos pés da cruz está Maria Madalena venerando o corpo de Jesus e São João, o discípulo amado. No canto inferior direito, soldados em um frenesi ganancioso lançam sortes sobre as vestes de Jesus.
O bom ladrão é levado pelos anjos para o céu como Jesus lhe prometeu: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23,43). Do outro lado, os soldados esmagam as pernas do ladrão repreendedor para garantir que sua execução seja completa.
E um centurião a cavalo reza com as mãos postas. Ele testemunhou o que aconteceu com Jesus e glorificou a Deus dizendo: “Na verdade, este homem era justo.” (Lc 23:47).
A Semana Santa é uma viagem pela Páscoa de Jesus na sua agonia, pela sua morte na cruz e pela descida aos infernos, para partilhar a alegria da sua ressurreição, pela qual Jesus, como afirma o Catecismo da Igreja Católica, “O mistério da ressurreição, em que Cristo aniquilou a morte, penetra no nosso velho tempo com a sua poderosa energia, até que tudo Lhe seja submetido” (nº 1169).
No painel direito, Jesus desce ao inferno. Revestido de radiante luz dourada, Jesus segura uma bandeira indicando sua vitória sobre o pecado e a morte por meio da cruz.
Cristo se eleva por cima da porta do inferno esmagando o maligno debaixo dela. A multidão no abismo das trevas olha para cima com esperança quando Jesus estende a mão para segurar a mão de Adão, enquanto os patriarcas e os profetas aguardam a libertação.
Acima de Deus, o Pai estende sua mão direita em bênção. E à direita, direcionando nosso olhar para o vitorioso Jesus está João Batista com auréola segurando uma faixa que diz: “Eis o Cordeiro de Deus”. Esta é a nossa fé pascal, e temos orgulho em professá-la!
Traduzido por Ramón Lara.
Escrito por Jem Sullivan, professora associada de catequese na Escola de Teologia e Estudos Religiosos da Universidade Católica da América. Ela é autora de “The Beauty of Faith: Christian Art and the Good News.”