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Imediaticidade e amor: nem sempre bons companheiros para a vida

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Imediaticidade e amor: nem sempre bons companheiros para a vida

Amar é escolher fazer o melhor possível, visando o próprio bem e o bem da pessoa que está próxima de mim

Amor Foto (Pixabay)

Fabrício Veliq*

É muito comum atualmente os programas televisivos que tratam sobre relacionamentos amorosos que desejam ser duradouros. Em praticamente todos os streamings, tais como Netflix, HBO Max, Discovery, dentre outros, há algum seriado que trate a respeito da relação entre duas pessoas, seja para confirmarem se querem continuar juntas, seja para encontrarem o par ideal, seja ainda para se transformarem em uma versão melhor de si mesmas.

Claramente, os condicionamentos sob os quais tais pessoas nesses programas estão cooperam para que as emoções fiquem à flor da pele. Afinal, você ficar sem contato com os amigos, familiares, celulares, devotando-se unicamente à pessoa com a qual precisa tomar uma decisão para a vida deve ser bem estressante, acelerando os conflitos ou demonstrações de vulnerabilidades e afetos que talvez não aconteceriam se a vida seguisse nos padrões do dia a dia.

No entanto, apesar das diversas críticas que se pode fazer com o modus operandi desse tipo de experimento, algo que sempre se mostra característico e que acreditamos ser importante refletirmos sobre isso é a questão da imediaticidade presente nesses programas. Tudo é para ser decidido em algumas semanas, até mesmo decisões super importantes como o casamento e a construção de uma vida em comum. Essa imediaticidade, por sua vez, em muitos casos se torna a maior enganadora no processo, principalmente quando se fala de relacio

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O leitor ou leitora que está ou já esteve em um longo relacionamento com alguém sabe que a imediaticidade e as relações interpessoais duradouras não são duas coisas que se combinam tão facilmente. Afinal, todo relacionamento precisa de tempo para ser maturado, avaliado, sentido de maneira mais profunda até que determinada decisão seja tomada, seja para a continuidade, seja para o término da relação.

Isso, por sua vez, revela uma característica muitas vezes esquecida nas relações amorosas que desejam ser duradouras, a saber, que a decisão de estar com a outra pessoa é diária. Todo dia se faz uma escolha de estar presente para o/a companheiro/a, fazer o melhor para ele/a, conversar para a tomada de decisão, fazer concessões e se impor.

Esses pequenos exemplos mostram que amar é sempre uma escolha que se faz na direção do outro de maneira diária, muitas vezes independentemente das emoções do momento. Amar é escolher fazer o melhor possível, visando o próprio bem e o bem da pessoa que está próxima de mim.

Nesse sentido, a tal da imediaticidade proposta nesses programas sobre os quais falamos um pouco acima pode se mostrar como uma grande inimiga contra o desenvolvimento de um relacionamento duradouro com um outro alguém.

Claramente, isso não quer dizer que algumas situações não exijam decisões imediatas. Usar a ideia de que o amor se desenvolve com o tempo para justificar relacionamentos abusivos ou violentos não faz nenhum sentido, sendo até mesmo desonestidade intelectual de quem usa tais argumentos.

Por fim, não tenho nada contra tais programas, achando-os até bem interessantes de se ver. No entanto, penso que a pergunta que deveria ter no final de cada episódio é: “e hoje, você continuará disposta a amar a pessoa que está com você, apesar das coisas que você idealiza nela?”.

Creio que tal pergunta deve ser respondida todos os dias. Se todo dia vier um sim, então o tempo mostrará que tal relacionamento foi duradouro.

Dom Total

*Fabrício Veliq é protestante e teólogo. Doutor em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE), Doctor of Theology pela Katholieke Universiteit Leuven (KU Leuven), Bacharel em Filosofia e Licenciado em Matemática (UFMG). É coautor do livro: Teologia no século 21: novos contextos e fronteiras.

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