Viver Evangelizando

Laudato sí: Preparar um amanhã melhor para todos

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Laudato sí: Preparar um amanhã melhor para todos

Somos todos responsáveis em repensar um novo modelo de desenvolvimento não predatório que valorize e respeite a criação e os direitos humanos.

‘Das mãos de Deus recebemos um jardim; aos nossos filhos não podemos deixar um deserto’ (papa Francisco). Planeta saudável, pessoas saudáveis! (Noah Buscher / Unsplash)

Élio Gasda*

Esse é o desejo do papa Francisco no sexto aniversário da encíclica Laudato sí. O pontífice renova seu apelo à humanidade para agir em favor da natureza: “Todos podemos colaborar, cada um com a própria cultura e experiência, cada um com as próprias iniciativas e capacidades, para que a nossa mãe Terra retorne à sua beleza original e a criação volte a brilhar novamente segundo o plano de Deus”.

Laudato si é uma das novidades dos 130 anos da Doutrina Social da Igreja. É a primeira encíclica inteiramente dedicada à ecologia integral. O documento defende uma conversão ecológica como única forma de salvar a mãe terra e preservar os recursos naturais e garantir as gerações presente e futura um desenvolvimento humano sustentável com justiça social. É compromisso cristão cuidar da criação, com um olhar voltado para os mais vulneráveis, principais vítimas dos desastres sociais e crimes ambientais.

Somos todos responsáveis em repensar um novo modelo de desenvolvimento não predatório que valorize e respeite a criação e os direitos humanos. “Há muito tempo esta casa que nos hospeda sofre com feridas que causamos por causa de uma atitude predatória, que nos faz sentir como soberanos do planeta e dos seus recursos e nos autoriza a um uso irresponsável dos bens que Deus nos deu. Hoje, essas feridas se manifestam dramaticamente em uma crise ecológica sem precedentes, que afeta o solo, o ar, a água e, em geral, o ecossistema em que os seres humanos vivem”.

A pandemia deixou ainda mais abertas as feridas e ampliou o grito da terra e o dos pobres, enaltecendo que “tudo está interligado e é interdependente e que a nossa saúde não está separada da saúde do meio ambiente em que vivemos”. A morte de mais 3,480 milhões de pessoas, causadas pelo coronavírus, no mundo pode ser consequência direta ou indireta de nossas ações ou omissões. É urgente uma mudança de atitude. Uma tarefa nada fácil, principalmente para os brasileiros, já que a prioridade ambiental é “alterar leis, sem passar pelo Congresso. Só na canetada” (Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente).

Dados do governo Bolsonaro: 57 atos legislativos de enfraquecimento das regulamentações ambientais; queda de 70% da aplicação de multas ambientais; falta de transparência dos órgãos fiscalizadores; extinção ou reestruturações de órgãos ligados às políticas socioambientais, sucateamento do IBAMA; desmatamento na Amazônia aumentou em 81%; desmatamento provocado por áreas de mineração aumentou mais de 90% nos últimos três anos. Sangue Yanomami corre pelos garimpos ilegais, cada vez mais destruidores. Governo ecocida, inimigo do meio-ambiente. Bolsonaro é uma catástrofe para o meio ambiente.

Agronegócio e mineração criminosa, incentivados por Bolsonaro, são os principais responsáveis pela destruição da Amazônia. Bolsonaro vetou R$239,8 milhões previstos para o meio ambiente, no orçamento aprovado em abril; seu ministro do Meio Ambiente, que gosta de “passar a boiada”, é investigado pela Polícia Federal, acusado de envolvimento com organização criminosa e de dificultar a fiscalização no trato de questões ambientais. Salles é acusado do maior tráfico de madeira ilegal da história. Três mil carregamentos de madeira contrabandeada para o exterior. O ministro virou caso de polícia. Enquanto isso, o Brasil soma meio milhão de mortos, mais de mil são indígenas.

A política não pode se submeter a economia, as duas em diálogo devem estar a serviço do bem comum, da vida, “especificamente da vida humana” (Laudato Si,189). O ser humano nunca recebeu autorização para saquear a terra, “a casa comum”. São urgentes as mudanças “nos estilos de vida, nos modelos de produção e de consumo, nas estruturas consolidadas de poder que hoje regem as sociedades” (Laudato Si, 5). Como ensina Francisco, “tudo está interligado”, mas um governo inimigo do meio ambiente é incapaz de entender isso. É urgente “trabalhar juntos” por “um mundo mais inclusivo, fraterno, pacífico e sustentável” […] “combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza”.

A mudança climática é real, já está acontecendo. “Cuidemos da nossa mãe Terra, superemos a tentação do egoísmo que nos faz predadores de recursos, cultivemos o respeito pelos dons da Terra e da criação, inauguremos um estilo de vida e uma sociedade eco-sustentável: temos a oportunidade de preparar um amanhã melhor para todos. Das mãos de Deus recebemos um jardim; aos nossos filhos não podemos deixar um deserto” (papa Francisco). Planeta saudável, pessoas saudáveis!

*Élio Gasda é doutor em Teologia, professor e pesquisador na Faje. Autor de: ‘Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja’ (Paulinas, 2001); ‘Cristianismo e economia’ (Paulinas, 2016)

O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente do Dom Total. O autor assume integral e exclusivamente responsabilidade pela sua opinião.

Fonte: Dom Total

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