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Covid-19: daqui a cinco anos e seis meses estaremos livres de perigo!

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Covid-19: daqui a cinco anos e seis meses estaremos livres de perigo!

Não falamos de avaliações pessimistas, ou de opiniões políticas; trata-se de uma contagem diária feita com um dado concreto, o número de vacinas aplicado. Mas não desanime, as contas são de quarta-feira, dia 10, e mudam todos os dias.

Dados sobre a vacinação brasileira são incertos pois, segundo a Bloomberg, o governo federal não fornece estatísticas (Nicolas Asfouri/AFP)

“Estar livre de perigo” significa o vírus desaparecer completamente, tornar-se quase inofensivo, ou facilmente neutralizado se aparecer pontualmente. Esse objetivo, segundo todos os especialistas, só será atingido quando chegarmos a uma situação chamada de “imunidade de rebanho” – a uma certa porcentagem de pessoas imunes, ou suscetíveis de ter sintomas suaves.

Não há uma definição certa para essa porcentagem, mas, considerando epidemias anteriores, anda pelos 70% da população.

Agora, o valor, num globo, aplica-se a toda a população do mundo, mais de sete milhões de pessoas. Como se tem visto pela rapidez com que as mutações do vírus viajam entre os cinco continentes, não basta que um país ou uma região chegue aos 70% de imunidade. Por exemplo, na China, onde o vírus começou e foi considerado controlado há meses, ainda hoje aparecem surtos esporádicos.

Para uma imunização que se veja, a solução são as vacinas.

Remédios que curam, podem vir a aparecer, mas só servem para quem já está infectado. Então, nesta altura temos cinco vacinas: Moderna, AstraZeneca, Pfizer, Sputnik e Sinovac – dando como certo que as duas últimas, russa e a chinesa, ainda não certificadas mundialmente, sejam eficientes. E há mais de uma dúzia a caminho da validação, como a da norte-americana Johnson & Johnson e a indiana Covaxin. São muitas vacinas, mas também são muitas pessoas a vacinar…

A distribuição das vacinas está se mostrando um problema muito mais complicado do que o desenvolvimento e, depois, a produção.

O desenvolvimento foi feito num tempo recorde, como sabemos, acelerando o cuidadoso processo tradicional que levava dez anos. A produção tem-se revelado insuficiente, pois trata-se de um processo complexo, com componentes escassos e com um tempo mínimo de cultura.

Fazer fábricas, esterilizadas e de alta segurança, também não é possível dum dia para o outro. Mas o ponto fraco na cadeia está sendo a distribuição dum produto perecível e que exige temperaturas muito baixas. Para não falar da necessidade de duas doses.

Para complicar o processo há, evidentemente, as questões econômicas e políticas.

Como temos assistido nos noticiários, a sofreguidão – justificada – dos vários países, que competem entre si pelas preciosas doses, não tem sido um espetáculo de solidariedade. Nem se esperaria que fosse…

Várias entidades mantêm um registo diário, nacional e mundial, do número de infectados, mortos e recuperados. Parece que agora está descendo, em termos globais, mas já subiu e desceu várias vezes. Além disso, é percepção geral que em certos países a contabilidade está subavaliada, pois para fazer como deve ser são necessárias estruturas sanitárias abrangentes e viáveis.

Há países avançados, como os Estados Unidos, que não têm um serviço nacional de saúde e há outros, como o proverbial Burundi, digamos, em que a medicina é exercida pelo feiticeiro da aldeia…

Em ambos os casos, e em muitos outros, não se pode contar com conhecimento exato das situações em tempo real.

Agora, uma estatística que é certa, são o número de vacinas produzidas, distribuídas e aplicadas. Essa contagem é feita pela empresa de tecnologia e serviços financeiros Bloomberg, que inclui publicações impressas e digitais, além duma profusão de serviços relacionados com os mercados. Com delegações em mais de 170 países, pode dizer-se que é a empresa mais bem informada do mundo.

Bloomberg mantém um “vacinne tracker” diário, que pode ser consultado (acesso gratuito com inscrição) sempre que se queira saber como vai a situação.

Na quinta-feira, dia 10, já tinham sido inoculadas 152 milhões de pessoas. Nesse dia, foram administradas 5.642.714 doses.

Ora bem, considerando o número já aplicado e a cadência diária, a Bloomberg calcula que sejam precisos cinco anos e meio para a humanidade chegar aos mágicos 75% de imunidade!

Ora bem, este número valia quinta feira e é global. Por um lado, o número de inoculados diariamente tende a aumentar. Mas, por outro lado, a distribuição não é uniforme, o que leva a uma imunidade de rebanho muito mais difícil, uma vez que as pessoas continuam viajando – muito menos do que em 2019, com certeza, mas ainda em números impressionantes.

Israel, que é um país pequeno, com uma estrutura sanitária de primeira, (e tem dinheiro para furar todas as filas à porta das fábricas) está neste momento à frente, com 65,68% da população vacinada. Será? Os 65% referem-se à população judaica. Para os árabes nos territórios sob o seu controle, foram entregues cinco mil vacinas.

Adiante…

Os Emirados Árabes Unidos, um país também pequeno, com estrutura sanitária e fundos ilimitados, já vacinou 43,58% dos seus cidadãos. Muito bom. Mas os milhares e milhares de trabalhadores nas suas obras faraônicas não são cidadãos.

Adiante, outra vez…

Segundo esta estatística, o Brasil, um país grande, com um serviço de saúde irregular e muita política pelo meio, já vácinou 2% da população. Não se sabe de onde vem este valor, porque, segundo a própria Bloomberg, o governo federal não fornece estatísticas. Vamos então usar o calculador da empresa norte-americana: quatro anos e meio. Se for verdade, é um ano antes do mundo em geral. Pelo sim, pelo não, é melhor rezar ao Senhor ou fazer um trabalho numa encruzilhada…

*O jornalista José Couto Nogueira, nascido em Lisboa, tem longa carreira feita dos dois lados do Atlântico. No Brasil foi chefe de redação da Vogue, redator da Status, colunista da Playboy e diretor da Around/AZ. Em Nova York foi correspondente do Estado de São Paulo e da Bizz. Tem três romances publicados em Portugal

Fonte: Dom Total

 

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