Francisco vai tomar a vacina?
Em meio a essa onda de negacionismo, o Vaticano não se intimida e lança campanha pró-vacina com o apoio de Francisco.
O Vaticano anunciou, há um mês, seu plano de vacinação. Compraram a vacina do consórcio Biontech/Pfizer, por considerarem-na a mais eficaz e segura do mercado até o momento. A campanha começa no início de 2021.
Questionado sobre o ceticismo em relação à substância, o médico Andrea Arcangeli, responsável pelo Setor de Saúde e Higiene do Governatorato do Estado do Vaticano, em entrevista ao Vatican News, disse que “os testes de segurança realizados são muito rigorosos e as autoridades no campo da saúde no mundo, antes de dar a autorização para a sua utilização no mercado, garantem sua aplicação com estudos específicos e rígidos”. Em outras palavras, a Santa Sé confia na ciência. O papa também.
Ao contrário do que muitos pensam, não somente o grupo seleto de religiosos que colabora com o papa será imunizado.
Todos os funcionários do pequeno Estado, juntamente com seus familiares, terão acesso à barreira de proteção contra o novo coronavírus. Sendo assim, o Vaticano, que abriga entre as suas muralhas cerca de 800 habitantes, será o primeiro país do mundo, ao que tudo indica, a vacinar todos os seus cidadãos.
Em três documentos oficiais, publicados ao longo do mês de dezembro, a Santa Sé faz um apelo à comunidade internacional para que todos, principalmente os mais pobres, tenham acesso ao imunizante. Além disso, pede aos católicos que tomem a vacina, zelando pelo bem do coletivo.
Nesta semana, a Pontifícia Academia para a Vida, escritório vaticano responsável pela promoção e a defesa da vida humana, publicou um texto no qual reitera que “rejeitar a vacina pode trazer sérios riscos à saúde pública e colocar a vida de todos em risco”. Posicionamento mais claro, impossível.
O dicastério que sempre esteve associado a campanhas contra o aborto, exprime que a causa pró-vida vai além da defesa do nascituro.
Ser pró-vacina, portanto, é um compromisso ético e moral que condiz com os princípios do catolicismo.
Ora, se o país que o papa governa já deixou claro o que pensa a respeito da distribuição da vacina, Francisco, certamente, dará o exemplo. Provável que ele, por causa da idade e do cargo que ocupa, seja um dos primeiros a receber o imunizante. Lembrando que ele já marcou até viagem internacional: vai para o Iraque, em março. E sua equipe não marcaria esse compromisso sem antes garantir que ele, que é do grupo de risco (84 anos), pudesse deixar a Itália em segurança.
Agora resta saber se, assim como outros chefes de Estado, o pontífice também posará para a foto. É provável que ele não o faça.
Mas após o recente “cancelamento midiático”, envolvendo a primeira profissional de saúde a receber a vacina, na Itália, sem dúvida a equipe de comunicação do Vaticano teve que repensar suas estratégias. Se isso acontecer, será a primeira vez, na história, que registram um papa recebendo uma vacina.
*Mirticeli Medeiros é jornalista e mestre em História da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Desde 2009, cobre o Vaticano para meios de comunicação no Brasil e na Itália e é colunista do Dom Total, onde publica às sextas-feiras