Cultura do cuidado: nova atitude para um novo tempo.
Luto foi a palavra de 2020. Que Cuidado seja a de 2021. Que em 2021 prevaleça a cultura do cuidado!
Que em 2021 prevaleça a cultura do cuidado! “Compromisso comum, solidário e participativo para proteger e promover a dignidade e o bem de todos, interessar-se, prestar atenção, ter espírito favorável à compaixão, ao respeito mútuo e acolhimento recíproco, constitui uma via privilegiada para a construção da paz”. Esse é o tom da mensagem do papa Francisco para o Dia Mundial da Paz 2021.
Em tempos de crise Francisco nos convida a conduzir firmes “o leme da dignidade da pessoa humana e a “bússola” dos princípios sociais para navegar com um rumo seguro e comum […] Colaboremos, todos juntos, a fim de avançar para um novo horizonte de amor e paz, de fraternidade e solidariedade…
Não cedamos à tentação do desinteresse pelos mais pobres, não nos habituemos a desviar o olhar, mas nos empenhemos concretamente por formar uma comunidade feita de irmãos que se acolhem mutuamente e cuidam uns dos outros”.
Ressaltando o sofrimento causado pela pandemia, não só pela crise sanitária, mas também pelo agravamento de outras crises, como a climática e alimentar, a econômica e a migratória, Francisco se dirige a homens e mulheres de boa vontade. Fala aos chefes de Estado, das Organizações Internacionais, a líderes espirituais e fiéis das diversas religiões. Exige dos responsáveis por políticas públicas e do setor privado que garantam a todos, principalmente aos mais pobres, acesso às vacinas e tecnologias no combate ao vírus.
Em sua mensagem o papa destaca a origem do ser humano, sua relação com o Criador, com seus semelhantes e recordou que “o jardim plantado no Éden” (Gn 2, 8) é para “cultivar e guardar” (Gn 2, 15). O mito dos irmãos Caim e Abel sugere uma “relação em termos de tutela ou custódia vivida negativamente por Caim”. Constatamos que “nestas narrações tão antigas, ricas de profundo simbolismo, estava contida a convicção de que tudo está inter-relacionado.
O cuidado autêntico da nossa vida e das nossas relações com a natureza é inseparável da fraternidade, da justiça e da fidelidade aos outros”.
Quiséramos que a mensagem do papa tocasse o coração de Bolsonaro e de seus fiéis escudeiros que parecem assemelhar-se a Caim. “Mesmo com sinal de proteção”, para que a vida deles seja salvaguardada, insistem na violação da dignidade humana. Enquanto bolsonaristas atacam os direitos humanos, papa Francisco ensina que a base da Doutrina Social da Igreja é “a promoção da dignidade de toda a pessoa humana, a solidariedade com os pobres e indefesos, a solicitude pelo bem comum e a salvaguarda da criação”. Quem segue a Jesus pratica a cultura do cuidado. É assim desde os primeiros cristãos (Atos 4, 34-35).
Enquanto o governo Bolsonaro assina MPs e leis pró-armas e põe fim a ajuda emergencial, Francisco encoraja a criação de um “Fundo mundial com o dinheiro que se gasta em armas e outros gastos militares para eliminar a fome e contribuir para o desenvolvimento dos países mais pobres!”
Se Bolsonaro ignora a ciência e a educação, Francisco estimula uma educação “mais aberta e inclusiva, de escuta paciente, diálogo construtivo e mútua compreensão” […] A educação é um dos pilares de sociedades mais justas e solidárias”. Nesse sentido, o papa convida líderes de todas as religiões a se dedicarem na “transmissão aos fiéis e à sociedade dos valores da solidariedade, do respeito pelas diferenças, do acolhimento e do cuidado dos irmãos mais frágeis”.
Tudo está interligado! Francisco destaca que “as causas de conflitos são muitas, mas o resultado é sempre o mesmo: destruição e crise humanitária”: “O que nos levou a sentir o conflito como algo normal no mundo? Como converter o nosso coração e mudar a nossa mentalidade para procurar verdadeiramente a paz na solidariedade e na fraternidade?”
“Num tempo dominado pela cultura do descarte e do agravamento das desigualdades dentro das nações e entre elas”, Francisco convida a todos, em especial as mulheres “em todas as esferas sociais, políticas e institucionais” a dar “um rumo verdadeiramente humano” ao mundo. Aprendamos das mulheres a cuidar.
Luto foi a palavra de 2020. Que Cuidado seja a de 2021. Sem o cuidado não haverá “Feliz ano novo”.
Cuidar do planeta e dos outros significa cuidar de nós mesmos.
*Élio Gasda é doutor em Teologia, professor e pesquisador na Faje. Autor de: ‘Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja’ (Paulinas, 2001); ‘Cristianismo e economia’ (Paulinas, 2016)
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