Religião

A pandemia no Brasil não é crise, é projeto

A pandemia no Brasil não é crise, é projeto.

Não é preciso uma câmara de gás, o vírus faz o serviço sujo, mata mais idosos e pobres, negros e indígenas.

Em plena pandemia, Bolsonaro promoveu aglomerações, menosprezou riscos e expôs seus próprios apoiadores

Em plena pandemia, Bolsonaro promoveu aglomerações, menosprezou riscos e expôs seus próprios apoiadores (Evaristo Sá/AFP)

Às portas do fim de um ano que está longe de apresentar seu desfecho, é fundamental considerar que tudo o que vivemos até aqui é matéria para muitos aprendizados. O principal deles é que, parafraseando Darcy Ribeiro, “a crise da pandemia no Brasil não é crise, é um projeto”. Então os leitores interrogarão se estou acusando a corja que governa o país hoje de terem eles próprios “plantado” o vírus da Covid-19 no Brasil. Venhamos e convenhamos, é óbvio que se trataria apenas de teoria da conspiração. Mas, vale ressaltar, projetos nascem das circunstâncias. Por isso somos “ensinados” e “aprendemos” a fazer limonada espremendo os limões que a vida oferece.

Em janeiro deste ano, ninguém, absolutamente ninguém, poderia imaginar que chegaríamos ao fim de dezembro com uma conta inconclusa de cerca de duzentas mil vidas perdidas para a doença que já matou centenas de milhares de pessoas em todo o mundo. O Brasil é o segundo país, atrás apenas dos Estados Unidos da América, no número de vítimas da pandemia. Esse número pode ainda ser maior se contabilizados outros óbitos por síndrome respiratória aguda grave sem a acusação de uma causa específica. Esses registros indicam a triste realidade da subnotificação de casos em nosso país.

Entre os óbitos, quero registrar, figuram rostos desconhecidos e rostos de gente muita amada por amigos e colegas.

A pandemia que começou do outro lado do oceano se instalou entre nós. E esse processo transcorreu de maneira muito simples: o vírus sempre dependeu de nós o povo brasileiro, e nós o ajudamos. Não aprendemos com a experiência dos outros países e também não aprendemos com a nossa própria experiência. Na verdade, no final desse segundo semestre, hoje estamos acostumados com a pandemia, tal como nos acostumamos com o vizinho que gosta de ouvir o som alto com seu gosto musical duvidoso. Já estamos tão familiarizados que nossas juventudes e a “amada” classe média seguem vivendo de festinhas e viagens: novo normal, assim dizem. Adeus pandemia. É uma ilusão.

Mas, para além da nossa falta de educação para as questões coletivas, graças ao sequestro do nós operado por uma época de individualismos e consumismos, podemos considerar que a pandemia se concretizou como um projeto do tipo “máquina de matar” pela manipulação do governo federal.

E aqui a manipulação consiste justamente em se aproveitar da oportunidade perfeita para instalar o caos social, aliás, único projeto que o governo ofereceu aos brasileiros e brasileiras até aqui, depois de fugir aos debates no pleito eleitoral há dois anos atrás.

Em maio passado, o ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, ofereceu o mote: aproveitar a pandemia para “passar a boiada”. E sambemos hoje que a boiada não passou apenas sobre as questões ambientais: há previsão de cortes em áreas cruciais como a educação e a saúde. É imprescindível considerar a força da metáfora evocada lá em maio: quando a boiada passa, meninos e meninas desaparecem e cruzes são colocados ao lado do estradão. A pandemia não é apenas um projeto de governo, é o projeto de matança coletiva do governo Bolsonaro. Há cheiro de nazismo no ar, não é mesmo?

Claro, para levar um projeto adiante é preciso de estratégias, e aqui elas se resumem a duas: a primeira é não fazer absolutamente nada para impedir que a pandemia avance, pois querem que ela fique cada vez maior e alcance mais pessoas e faça mais vítimas.

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A incompetência para a gerência da crise sanitária é evidente e deve ser assim mesmo para se alcançar os objetivos pretendidos.

Quem tentou alguma organização e coordenação não serviu e saiu. A segunda estratégia é tão asquerosa quanto à segunda, mas coloca em maior evidência os indivíduos do governo, sobretudo o desprezível presidente da república. Desprezível porque, sendo o mais enérgico interessado nesse projeto, é seu marqueteiro e panfletista. Essa estratégia se resume em negar, minimizar e desprezar a crise que vivemos.

Basta uma pesquisa no Google para relembrar todas as falas e discursos de Jair Bolsonaro ao longo da pandemia: “gripezinha”, “resfriadinho”, “fantasia”, “histórico de atleta”, “coveiro”, “lamento. Quer que eu faça o quê?”, “cloroquina”, “tubaína”, “destino”, “todo mundo vai morrer”, “churrasco”, “jacaré”, “quase normalidade”, “eu não dou bola para isso”. Para quem quiser uma pesquisa mais apurada e na íntegra, basta acessar a Retrospectiva: as piores declarações de Bolsonaro sobre a pandemia, no site da Carta Capital.

Está mais do que óbvio que Bolsonaro “não dá bola para isso”, precisamente porque essa ação faz parte do seu projeto de dizimação coletiva da população brasileira.

Não é preciso uma câmara de gás, o vírus faz o serviço sujo, mata mais idosos e pobres, negros e indígenas. E como já disse o próprio Bolsonaro em vídeo de 1999: “Vão morrer alguns inocentes. Tudo bem. Em toda guerra, morrem inocentes”. Morrem os dele, os que ajudaram a elegê-lo, mas morrem muito mais que trinta mil do lado mais fraco da corda, as pessoas normalmente negadas por esse governo.

Psicopatia? Foge às nossas competências nominar o desempenho do nosso garoto propaganda. Deixemos a tarefa para os especialistas no assunto. A nós cabe apenas ressaltar: a nossa solidariedade para com cada família que terminará esse ano sem a presença de seus entes queridos; o nosso pedido de perdão a cada pessoa que morreu, conhecidos e desconhecidos, por nossa falta de educação e mobilização coletiva para o enfrentamento dos nossos problemas nacionais.

Ressaltamos que não compactuamos com o projeto necrófilo do governo Jair Bolsonaro instalado sobre a crise sanitária da pandemia do novo coronavírus.

Como se trata de um projeto, algo deve ser feito urgentemente para frear as engrenagens que movimentam a máquina de chacina nacional.

A consciência individual conclamando à autoproteção e ao cuidado dos outros é a primeira ação para nos mantermos vivos e impedir que o próximo ano coloque mais vidas em risco e que elas sejam perdidas. A mobilização da sociedade brasileira é urgente e precisa se respaldar na Constituição Federal que preza pela “inviolabilidade do direito à vida”.

O temor é não estarmos suficientemente manipulados pela mídia e indiferentes demais para derrubar o inescrupuloso projeto de morte que o governo Bolsonaro fez a partir da crise que o Brasil enfrenta, no limiar de um novo ano, como país do ocaso.

*Tânia da Silva Mayer é mestra e bacharela em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE); graduanda em Letras pela UFMG. Escreve às terças-feiras. E-mail: taniamayer.palavra@gmail.com

Fonte: Dom Total

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