Viver Evangelizando

Pandemia eleitoral, eis o que vivemos

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Pandemia eleitoral.

“A pandemia do horário e das propagandas eleitorais“.
Se houvesse comícios, o melhor seria levar um cesto com algumas dúzias de ovos
Comerciais políticos são uma arma de grande efeito, quando criativos e bem realizados

E eis que estamos vivendo a pandemia do horário e das propagandas eleitorais. Só que é uma pandemia divertida, diferentemente da outra, dramática, da Covid-19. As mensagens estreladas pelos candidatos são, em verdade, autênticos programas de humor. Mas é verdadeiramente digno e justo lembrar que eles não são os únicos culpados pela enxurrada de bobagens que levam ao espectador e/ou ouvinte. Há também os marqueteiros e os redatores que produzem textos os mais hilariantes, na doce ilusão de que estão sensibilizando o eleitor e, consequentemente, garantindo votos.

Juro que vi um candidato cuja plataforma de governo consiste em criticar a administração do governante atual e candidato à reeleição. Só que as críticas têm pouco embasamento, o que resulta em tiro no pé. Outro garante que fará da cidade o melhor lugar pra se viver, sem mostrar como realizará o milagre. Vem outro e promete quadruplicar o número de ônibus para transporte da população, de modo que não haverá ninguém em pé dentro dos coletivos.

Promessa vã, evidentemente, e o eleitor dificilmente engolirá a falácia.

Mas o mais hilariante é o que leva ao ar a recomendação efusiva de um ex-presidente da República, já falecido politicamente e fisicamente alquebrado. Diz que se trata de um candidato que já foi ministro “extraordinário” e fará uma administração admirável. Embora seja possível que ele ainda tenha algum prestígio e seguidores, pouca gente leva a sério a fala ex-presidencial, que se repete indefinidamente no horário pandêmico.

E tem um que, aproveitando a deixa, se diz “o candidato da família Bolsonaro”. Não se contenta em ser o candidato só do presidente, tem que botar no meio a mulher e os filhos dos números 01 ao 04, ou seja, a família toda no bolo. Só falta incluir o Fabrício Queiroz e alguns milicianos.

Campanhas políticas são, ou já foram algo interessante. Eu mesmo já participei de algumas, quando trabalhei na criação de comerciais e textos diversos, como redator. Criei algumas fantasias para atrair o eleitor, mas tenho a consciência tranquila de nunca ter escrito mentiras do tipo propaganda enganosa.
Fui redator, por exemplo, da campanha do Newton Cardoso contra Itamar Franco, nos idos de 1986, contratado pela Setembro do Almir Sales.
Um dos comerciais que criei mostrava a diferença entre Newton e Itamar à frente das prefeituras de Contagem e Juiz de Fora, respectivamente.

O comercial mostrava, um ao lado do outro, dois computadores, que na época expeliam os chamados formulários contínuos.

Em um deles, o formulário era longo, estendendo-se por todo o cenário. Eram as realizações do “Homão” em Contagem. No outro, um formulário minúsculo, representando as pouquíssimas obras de Itamar em Juiz de Fora. Era a pura verdade. Como se sabe, Newton Cardoso foi o vencedor naquela eleição.

Comerciais políticos são uma arma de grande efeito, quando criativos e bem realizados. Servem para dar um tempero publicitário à campanha. Do contrário, se não forem criativos e bem produzidos, só servem para reforçar a sensação de incompetência do candidato.

Não sei dizer se é boa a ideia da criação do horário eleitoral, mas é certo que têm uma vantagem, além de serem hilariantes: substituem os comícios, especialmente nesta época de pandemia, durante a qual comícios são inconvenientes, por causarem aglomerações.

O certo é que, se houvesse comícios, o melhor seria o eleitor levar, para saudar determinados candidatos, algumas dúzias de ovos. Sabendo-se que, em certos casos, o ideal seria levar ovos bem graúdos, como de avestruz, por exemplo.

*Afonso Barroso é jornalista, redator publicitário e editor

Fonte: Dom Total

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