Diante de um evangelho vil, a melhor resposta é o ateísmo.
Diante de um evangelho vil.
É necessária a restauração do movimento evangélico brasileiro.
A ex-mulher de pastor Everaldo, Katia Maia, levou ao STJ um processo em que o acusa de agressão física, seguida de ameaça de morte.
A última semana foi desastrosa para o cristianismo brasileiro, principalmente no movimento evangélico. Houve padre acusado de desvio de dinheiro, pastor sendo preso, descoberta de que uma pastora e cantora gospel foi assassina do próprio marido.
Esses fatos, porém, foram somente os que a grande mídia noticiou. Qualquer pessoa que já esteve ou está envolvida nas cúpulas do movimento sabe muito bem que há muito mais coisas deploráveis sendo feitas em diversas igrejas no país e que não são denunciadas ou, até mesmo, sequer apuradas devido aos conchavos políticos existentes nesse meio.
Não é de se espantar que tanto o pastor quanto a cantora gospel tinham um discurso fundamentalista, daquele que considera pecaminoso, vil e corrupto tudo o que vai contra a cartilha que pregam.
A própria cantora, afirmando-se defensora da vida e da família, já afirmou ser contra o aborto por considerá-lo como assassinato. Irônico, não?! Era tão a favor da união conjugal aos moldes divinos que chegou ao ponto de dizer que não se divorciaria porque escandalizaria o nome de Deus.
Na mesma tara que o fundamentalismo cristão tem por questões sexuais, o pastor acusado de corrupção já mostrou posturas nessa mesma linha.
Por exemplo, já disse que as relações homoafetivas destroem a família, mesmo tendo sido condenado em primeira instância após sua ex-mulher levar ao STJ um processo em que o acusa de agressão física, seguida de ameaça de morte.
Ainda que o processo tenha sido revertido e agora esteja em Brasília, isso parece indicar que o padrão familiar desejado por tal pastor seja o da submissão feminina e das agressões, tão comuns na família tradicional brasileira.
Algo importante de ser lembrado também é que esse pastor foi o mesmo que batizou o atual presidente, que segue com seus discursos de ódio, posturas nazifascistas, negacionismo em relação à ciência, falta de incentivo no combate à pior pandemia pela qual passamos – que fez o país ultrapassar a marca de 115 mil mortos – e que ainda tem a família envolvida em diversos casos de corrupção.
Esses dois casos somente já servem de exemplo para revelar um tipo deprimente de movimento evangélico que existe no país e que, infelizmente, tem alcançado o poder executivo, legislativo e judiciário, mostrando-se como o “rosto evangélico” que muitos veem.
Ora, se é esse o evangelho desejado por tais lideranças, se o deus pregado por elas é aquele por cujo nome se pode matar, condenar, discriminar, torturar, silenciar, coagir, chantagear, roubar e corromper, tal divindade é pior que os antigos deuses das nações ao redor de Judá, que exigiam o sacrifício dos filhos para aplacar sua ira.
É pior que os deuses que demandavam prostituições cultuais por parte dos sacerdotes e sacerdotisas a fim de que pudessem mandar chuva para as colheitas e prover de filhos o seu povo.
Se é esse o deus anunciado pelos evangélicos fundamentalistas, então é tarefa da teologia cristã anunciar e incentivar o ateísmo como resposta. Afinal, esse não é o Deus a quem Jesus chamou de Pai, que ama a todos e todas indiscriminadamente, que não exige nada em troca para abençoar, que convida a participação de sua vida, que se mostra ao lado dos fracos, oprimidos e famintos de quem tem fome e sede de justiça.
Esse ateísmo, que nasce a partir da negação do deus anunciado por essas lideranças, pode ser o início de uma profunda transformação do movimento evangélico e, talvez, o único caminho possível para que ele retome a narrativa cristã.
*Fabrício Veliq é protestante e teólogo. Doutor em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE), Doctor of Theology pela Katholieke Universiteit Leuven (KU Leuven), Bacharel em Filosofia e Licenciado em Matemática (UFMG) E-mail: fveliq@gmail.com. Site: www.fabricioveliq.com.br
Fonte: Domtotal
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