A missa como oração: quando o óbvio precisa ser ressaltado.
A missa como oração é encontro; encontro é diálogo; oração é diálogo!
Para o catolicismo, pois, a participação na Eucaristia é um dever, e como ressalta o Concílio Vaticano II, um direito de todo fiel.
Não há quem, no catolicismo, duvide de que a missa seja um momento de oração dos mais importantes para o exercício da fé. Nas catequeses sobre a liturgia e a missa, o papa Francisco se dedica a refletir sobre essa questão tão óbvia.
O óbvio, no entanto, nem sempre é bem percebido, como se deve, ou acaba por se tornar banal, porque já pressuposto. Essa é, pois, a importância de se conversar sobre uma questão tão elementar.
Por longos séculos, a participação dominical na missa foi pautada pela questão do preceito.
O primeiro mandamento da Igreja, aliás, deixa expresso: “Participar da missa inteira aos domingos, de outras festas de guarda e abster-se de ocupações de trabalho”.
O cânon 1247, do Código de Direito Canônico usa a palavra “obrigação”, para expressar o dever dos fiéis de participarem da missa aos domingos e festas de preceito.
Não vamos entrar, aqui, na problemática séria acerca do impedimento de inúmeros fiéis impossibilitados de participarem do Dia do Senhor, com a celebração da Eucaristia.
Para o catolicismo, pois, a participação na Eucaristia é um dever, e como ressalta o Concílio Vaticano II, um direito de todo fiel.
Por trás da lei canônica há o sentido de que a participação na Eucaristia, no dia do Senhor, seja o ponto ápice da vida cristã.
Não é sem motivos que a Sacrosactum Concilium ressalta que a Liturgia é o cume o ápice da vida da Igreja. Mas, ainda que por trás da lei haja um espírito cheio de sentido, é próprio de toda normatização certa cristalização.
Não se pode, pois, negar a influência da legislação, que torna a participação um preceito, na vida direta dos fiéis: já que há a lei, é preciso cumpri-la, sob a pena de incorrer em pecado mortal. De alguma maneira, isso acaba por tirar a gratuidade do desejo dos fiéis de participarem da Celebração.
Quando, então, o papa pega uma questão tão óbvia, que é dizer que a missa é uma oração, temos uma espécie de resgate da valorização de um desejo gratuito e livre que deve existir em cada fiel, para que se aproxime do banquete eucarístico.
Isso porque, ressaltando o valor oracional da Missa, reforça-se a compreensão de que ela é momento privilegiado de encontro, com o Senhor, em sua Palavra e Corpo doados, bem como com os irmãos e irmãs.
Um encontro de comunhão. Ora, a oração é, sobretudo, possibilidade de comunhão.
Em sua catequese, Francisco aponta para essa dimensão do encontro, chamando a atenção para o diálogo que a oração possibilita. O aspecto dialogal da liturgia não é acessório, e sim elementar.
Podemos dizer que o diálogo, na liturgia, é sacramental, pois é por meio dele que realizamos a obra do Cristo Total, cabeça e membros.
O diálogo, na liturgia, é transversal: dos fiéis com a presidência, dos fiéis com os fiéis, da assembleia com Cristo, da Igreja com o Pai.
Esse diálogo deve ser vivido como uma profunda experiência de oração e, por isso, de encontro mesmo: aquele que deixa marcas, que provoca transformação. Oração é encontro; encontro é diálogo; oração é diálogo! Que redescubramos o óbvio, e façamos dele verdadeira oportunidade: o de vivenciar a Eucaristia, fora do rigor da lei.
*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com
Fonte: Domtotal
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