Liturgia Diária

Jesus vai além da compreensão que se tem sobre ele

Vamos conhecendo Jesus na medida em que nos entregarmos a ele.

Não é fácil tentar responder com sinceridade à pergunta de Jesus: “Quem dizeis que eu sou?”. Na realidade, quem é Jesus para nós? Sua pessoa chega-nos através de vinte séculos de imagens, fórmulas, devoções, experiências, interpretações culturais… que vão revelando e velando, ao mesmo tempo, a sua riqueza insondável.

Mas, além disso, cada um de nós vai revestindo Jesus com o que somos nós mesmos. E projetamos nele nossos desejos, aspirações, interesses e limitações. E quase sem nos darmos conta, o diminuímos e desfiguramos, mesmo quando o tentamos exaltar.

Mas Jesus continua vivo. Nós, cristãos, não conseguimos dissecá-lo com a nossa mediocridade. Não permite que o disfarcemos. Não se deixa etiquetar nem se reduzir a uns ritos, umas fórmulas ou uns costumes.

Jesus sempre desconcerta a quem se aproxima dele com uma postura aberta e sincera.

É sempre diferente do que esperávamos. Sempre abre novas brechas na nossa vida, quebra os nossos padrões e nos atrai para uma nova vida. Quanto mais se conhece a ele, mais se sabe que ainda se está começando a descobrir.

Jesus é perigoso. Percebemos nele uma entrega aos homens, que desmascara o nosso egoísmo.

Uma paixão pela justiça que sacode as nossas seguranças, privilégios e egoísmo. Uma ternura que deixa ao descoberto a nossa mesquinhez. Uma liberdade que rasga nossos milhares de escravidões e servidões.

E, sobretudo, intuímos nele um mistério de abertura e proximidade a Deus que nos atrai e nos convida a abrir a nossa existência ao Pai. Vamos conhecendo Jesus na medida em que nos entregarmos a ele.
Só há um caminho para aprofundar seu mistério: segui-lo.

Seguir humildemente seus passos, abrir-nos com ele ao Pai, reproduzir seus gestos de amor e ternura, ver a vida com seus olhos, partilhar seu destino doloroso, esperar sua ressurreição.
E, sem dúvida, orar muitas vezes do fundo dos nossos corações: “Creio, Senhor, ajuda a minha incredulidade”.

Publicado originalmente em Religión Digital e traduzido pelo IHU.

*José Antonio Pagola é padre e tem dedicado a sua vida aos estudos bíblicos, nomeadamente à investigação sobre o Jesus histórico.

Nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagradas Escrituras pelo Instituto Bíblico de Roma (1965), e diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966).
Professor no seminário de San Sebastián (Espanha) e na Faculdade de Teologia do Norte de Espanha (sede de Vitória), foi também reitor do seminário diocesano de San Sebastián e vigário-geral da diocese de San Sebastián.

Fonte: IHU/Domtotal

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