A bênção mais ‘poderosa’ do catolicismo contra o Covid-19.
Em decisão histórica, Francisco abre exceção e realiza ritual romano pedindo o fim da pandemia do coronavírus. Papa Francisco durante bênção pascal Urbi et Orbi, em 2018.
Diante de situações extraordinárias, medidas extraordinárias.
Preocupado com a proliferação do Covid-19, que provocou milhares de vítimas em todo o mundo, o pontífice abre uma exceção e concede uma bênção especial ao mundo inteiro.
A Urbi et Orbi – à cidade (Roma) e ao mundo – que, na tradição católica, acontece durante três ocasiões solenes – Natal, Páscoa, eleição do papa –, é concedida excepcionalmente por Francisco nesta sexta-feira (27), após momento de oração em frente à basílica de São Pedro.
Diante da praça vazia, “mas cheia de nossas preces” – disse o papa no último domingo – ele reza pelo fim da pandemia.
Em palavras mais simples, a fórmula é considerada a bênção mais poderosa do catolicismo e somente o sumo pontífice da Igreja Católica pode presidi-la.
Assim, os fiéis que a recebem têm direito à indulgência plenária – o cancelamento das penas geradas pelos pecados, as quais, de acordo com a doutrina católica, deverão ser “pagas” após a morte.
Assim, temo uma oração universal
Por muitas pessoas não compreenderem a importância dessa invocação, passou-se despercebido o que significa realizar esse ritual nesse momento específico.
Com a decisão de abrir essa exceção, o papa exprime o sentido da universalidade da Igreja, convocando os católicos de todo o mundo a lutar, com fé e com obras, pela erradicação desse vírus.
Por isso, sem dúvida, algo que ficará marcado, para sempre, na história do catolicismo.
Francisco utiliza as prerrogativas que tem para clamar o fim da pandemia e, com o gesto, faz uma espécie de “exorcismo” contra os negacionismos e minimizações em torno da doença.
Além disso, ele pediu que se transferisse para a basílica de São Pedro o crucifixo milagroso.
Esse por sua vez, de acordo com a tradição católica, pôs um fim à peste de 1522.
O objeto sacro é venerado na igreja de San Marcellino al Corso, no centro de Roma, onde Francisco rezou pela mesma intenção, no último dia 15 de março.
Curiosidades sobre a bênção mais ‘poderosa’.
A fórmula Urbi et Orbi também aparece nas assinaturas dos decretos das congregações romanas, em bulas papais e outros documentos de caráter universal.
Dessa forma, a frase indica que as decisões tomadas por esses organismos ou pelo próprio papa devem ser aplicadas em Roma e em toda a Igreja.
Entre os séculos 16 e 19, os papas concediam essa bênção com mais frequência.
Como no caso de Pio IX, que também a invocava na quinta-feira santa e em outras datas solenes.
Depois da queda do Estado pontifício, em 1870, os papas não a realizavam na sacada da basílica de São Pedro, como acontece hoje.
Por se auto-intitularem “prisioneiros no Vaticano”, após a tomada de Roma, a bênção passou a ser invocada no interior da basílica de São Pedro.
Só em 1922, papa Pio XI retomou o costume de voltar-se para o público.
Demonstrando, com isso, o desejo de estabelecer o diálogo entre a Santa Sé e o movimento nacional italiano.
Ambos reivindicavam a posse de Roma: a Igreja, como sede do governo temporal do papa e os expoentes do Risorgimento, como capital do reino da Itália.
Desde o tratado de Latrão, quando foi criado o Estado da cidade do Vaticano, em 1929, acontecem as tradicionais “saudações militares”.
Essas contam com a participação de representantes da guarda pontifícia e das forças armadas italianas.
Ou seja, é um evento que, desde então, também simboliza a união entre os povos.
*Mirticeli Dias de Medeiros é jornalista e mestre em História da Igreja pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.
Desde 2009, cobre o Vaticano para meios de comunicação no Brasil e na Itália e é colunista do Dom Total, onde publica às sextas-feiras
Fonte: Dom Total