A dádiva de acreditar pode viver em nós e mesmo assim não a percebemos.
Por isso, a ação de acreditar sinaliza que somos crentes verdadeiros?
Somos crentes?
Reflexão sobre o Evangelho do 27º Domingo do Tempo Comum – Lc 17,5-10
Não temos de falar com Deus como se estivesse fora de nós. Está dentro.
Por José Antonio Pagola*
Jesus tinha-lhes repetido em diversas ocasiões: “Que pequena é a vossa fé!”. Os discípulos não protestam.
Sabem que ele tem razão. Levam bastante tempo junto dele.
Eles o veem entregue totalmente ao projeto de Deus; só pensa em fazer o bem; só vive para fazer a vida de todos mais digna e mais humana. Poderão segui-lo até ao fim?
Segundo Lucas, num momento determinado, os discípulos dizem a Jesus: “Aumenta-nos a fé”.
Sentem que a sua fé é pequena e débil. Necessitam confiar mais em Deus e acreditar mais em Jesus. Não o entendem muito bem, mas não discutem.
Fazem justamente o mais importante: pedir-Lhe ajuda para que faça crescer a sua fé.
A crise religiosa dos nossos dias não respeita nem sequer os praticantes.
Nós falamos de crentes e não crentes, como se fossem dois grupos bem definidos: uns têm fé, outros não. Na realidade, não é assim.
Quase sempre, no coração humano, existe, ao mesmo tempo e alternadamente, um crente e um não crente.
Por isso, também nós que nos chamamos “cristãos” temos de nos perguntar: Somos realmente crentes? Quem é Deus para nós? Amamo-lo? É Ele quem dirige a nossa vida?
A fé pode debilitar-se em nós sem que nunca nos tenha assaltado uma dúvida.
Se não a cuidamos, pode diluir-se pouco a pouco no nosso interior para ficar reduzida simplesmente a um hábito que não nos atrevemos a abandonar, pelo sim pelo não.
Distraídos por mil coisas, já não conseguimos comunicar-nos com Deus. Vivemos praticamente sem Ele.
Que podemos fazer? Na realidade, não se necessitam grandes coisas.
É inútil que nos coloquemos objetivos extraordinários, pois seguramente não os vamos cumprir.
O primeiro é rezar como aquele desconhecido que um dia se aproximou de Jesus e lhe disse: “Creio, Senhor, mas vem em ajuda da minha incredulidade”. É bom repeti-lo com o coração simples. Deus entende-nos. Ele despertará a nossa fé.
Não temos de falar com Deus como se estivesse fora de nós. Está dentro.
O melhor é fechar os olhos e ficar em silêncio para sentir e acolher a sua presença. Tampouco temos de nos entreter em pensar nele, como se estivesse só na nossa cabeça. Está no íntimo do nosso ser. Temos de procurá-lo no nosso coração.
O importante é insistir até ter uma primeira experiência, mesmo que seja pobre, mesmo que só dure uns instantes.
Se um dia percebemos que não estamos sós na vida, se captamos que somos amados por Deus sem merecê-lo, tudo mudará.
Não importa que tenhamos vivido esquecidos dele. Acreditar em Deus é, antes de tudo, confiar no amor que ele nos tem.
Fonte: Dom Total